Dicas para Poupar:

Vauban, a Cidade do Futuro:

Estamos em Freiburg, uma cidade no sudoeste da Alemanha que surgiu no século 12. Com uma igreja, uma das mais antigas da Europa, e casinhas do estilo gótico, é difícil imaginar como se tornou o maior símbolo de consciência ecológica do mundo.

Começamos pelo meio de transporte oficial de Freiburg: a bicicleta. Nada muito futurista. Então, e que tal um elétrico? Nada muito radical, também. Mas quando olhamos para os medidores da qualidade do ar na cidade,reparamos que esses índices de emissão de gás carbónico são praticamente zero.

O espírito “verde” das ruas contagia até o espaço onde as pessoas moram. À primeira vista, nem parece uma casa futurista, mas na verdade o segredo está nos detalhes.

“A ideia é manter o calor interno. Para isso, criamos um isolamento térmico em volta de todas as casas, nas paredes, no tecto e no chão”, conta o arquiteto Meinhard Hansen.

Esse conceito, comum em Vauban, o bairro mais verde de Freiburg, é conhecido como “casa passiva”. Os projectos de Hansen, por exemplo, consomem apenas 10% da energia gasta nas casas convencionais.

Qual o segredo? As janelas maiores permitem boa entrada de luz e são feitas com três lâminas de vidro para evitar que o calor saia.

O dono de uma casa, Andreas Venske, convida-nos para entrar. A surpresa é como, apesar dos 31ºc lá fora, a casa está fresca.

Uma casa como esta, segundo o arquiteto, custa apenas 10% a mais do que uma obra convencional. “Com a energia que economizamos ao longo dos anos, esse custo desaparece”, explica Andreas.

Sol em excesso não é problema. A solução está nos balcões, projetados para que as suas sombras cubram a janela. O sol de inverno, que é mais baixo, entra em abundância, mas o sol de verão fica de fora. De fora, mas sem desperdício.

Num colorido conjunto residencial, por exemplo, os painéis solares chegam a captar mais energia do que as casas consomem. E o governo incentiva essa atitude “comprando” e redistribuindo essa “sobra de electricidade”.

Andrea Ocker, directora de marketing de uma empresa de alta tecnologia solar, explica que até a posição dos painéis solares foi planejada. São eles que fazem essas longas e refrescantes sombras no verão - sem, claro, pararem de produzir energia.

Andrea conta que Freiburg sempre esteve na ponta do desenvolvimento de energias alternativas. Quando nos anos 70, o governo propôs uma usina nuclear na região, os moradores da cidade protestaram. Com 1,8 mil horas de sol por ano, a ideia parecia um insulto.

A melhor prova de que a cidade poderia aproveitar bem essa energia toda surgiu há cinco anos com o solar Infocenter. De cima, é possível ver o passado. E nós estamos no futuro, com o primeiro prédio da Alemanha com emissão de carbono totalmente zero.

Para ligar computadores e outros eletrónicos, o prédio de 4,5 mil metros quadrados usa a energia do sol captada por um mar de placas receptoras.

“Consideramos tudo: a luz e os ângulos do sol, o vento, as variações de temperatura. Um sistema central inteligente preocupa-se com cada detalhe que possa economizar energia”, explica o arquiteto Benjamin Fillis.

Ninguém tocou nas persianas. A parte que está aberta para entrar a luz do dia foi controlada por um computador que calculou o quanto de luz era necessária para a sala naquele momento.

Benjamin conta que o programa é capaz até de prever o tempo. Assim, se houver a chance de uma noite mais fria no verão, o sistema abre-se para refrigerar um pouco mais o prédio.

A brasileira Ludmila Bezerra é consultora, mora em Freiburg há 12 anos e dá um outro exemplo de consciência ecológica na reciclagem de lixo: orgânico, papel, vidro, plástico, tudo é recolhido separadamente.

Ludi vê na geração de seus filhos uma consciência ainda maior.

“Chegando a uma festa festa, a minha filha puxou o meu vestido e disse: ‘Mãe, olha em cima da mesa. Tudo de plástico’. Ela achou um horror, uma criança de 8 anos. Ela aprende na escola”, disse Ludmila Bezerra.

Não é à toa que um sítio-escola faz sucesso em Freiburg. Lá, as crianças divertem-se com os recursos da natureza. Com barro, palha, galhos e água do riacho, elas aprendem desde cedo a fazer os seus próprios brinquedos.

Alguns são bem grandes. Joachim Stockmaier, pedagogo da escola diz que a ideia é radicalizar.

“Não temos água a sair da torneira, só um pouco de energia solar. Assim, as crianças aprendem uma nova forma de convívio que não tem a ver com estar sempre a fazer ‘click’ e tudo acende”, afirma o pedagogo Joachim Stockmaier.

E assim, brincando com a natureza, usando criatividade e energias renováveis, essas crianças vão levar adiante a reputação de Freiburg, onde o futuro já chegou - e há muito tempo.